segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Morador de rua é aprovado em vestibular na Universidade de Brasília com 80% de acerto

SergioUnB_internaMuitas vezes, não damos valor ao acesso que temos a educação, aos livros e as oportunidades. Mas vendo histórias como esta, reafirmamos nossa gratidão e restauramos nossa fé na humanidade. O morador de rua Sergio Reis Ferreira superou desafios, estudou muito e enfim ingressa na segunda faculdade, desta vez no curso de Letras da UnB, em Brasília.
Com nome estampado na lista dos aprovados, ele afirmou que conseguiu se preparar para as provas com ajuda dos livros nos pontos de ônibus de Brasília. Aos 36 anos, o mineiro natural de Ipatinga sorri à toa com o acerto de 80 das 100 questões da prova, e mesmo que não tenha conseguido responder todas, conseguiu entrar para o segundo curso superior de sua vida.
Em 2012, Ferreira concluiu o curso de pedagogia, iniciado em 2006, quando já vivia na rua e anos antes havia prestado matemática, mas não passou. A monografia que o levou ao diploma teve como tema central a sua antiga situação: “As dificuldades dos moradores de rua do Distrito Federal de se inserirem por meio da educação formal“.
O trabalho de conclusão de curso pode ser conferido neste link e, entre muitas informações, apresenta um tema importante para debate, que é o papel da educação como fator de inserção social, usando ainda a teoria de Bourdieu como referência.
“Quando eu vi meu nome na lista de aprovados eu saí gritando de felicidade pela esplanada. (…) Entrei na UnB por meio das cotas raciais e sou favorável à discriminação positiva, ou seja, de dar oportunidades iguais a pessoas diferentes”, escreveu.
Entre os agradecimentos presentes no TCC, algumas palavras dedicadas a uma professora expressam seus sentimentos: “[agradeço] pelas inúmeras vezes que me enxergou melhor do que eu realmente sou. Pela capacidade de me olhar bem devagar já que muita gente me olhou depressa demais“.
De família humilde, passou por muitas situações vulneráveis ao longo de sua trajetória até ir para o Distrito Federal. “Um dia, depois de ouvir a música Faroeste Caboclo, da banda Legião Urbana, eu resolvi embarcar nesta nova aventura, pois já tinha perdido minha mãe e o “conforto” do orfanato. Muitas vezes pensei que mesmo, às vezes, sendo agredido era melhor, pois ao ser hospitalizado tinha uma cama para dormir, roupa limpa, banheiro para fazer as necessidades fisiológicas, além de poder manter minha higiene diária”. Muitos outros trechos incríveis desta história podem ser conferidos na monografia de Ferreira.
Agora, ele almeja novos passos e novos rumos dentro da faculdade de Letras. Embora ainda viva em situação de rua e tenha enfrentado problemas para se adaptar a instituição, o que realmente não é fácil para alguém que teve uma vida como a dele, Ferreira não desistiu de seus sonhos e vai atrás de mais um deles.
SergioF4Em 2013, a UnB criou a Escola de Formação Permanente para o Protagonismo do MNPSR (Movimento Nacional da População em Situação de Rua), logo após a formação deste aluno, que discorre em seu trabalho que a universidades precisam de estrutura para receber moradores de rua, que trazem consigo “doenças, vícios, falta de disciplina e dificuldade de se adequar a rigidez acadêmica”, conforme as próprias palavras de Ferreira.
O programa de extensão visa oferecer uma formação para que homens e mulheres que vivem nas ruas do Distrito Federal possam discutir e garantir condições mais dignas, como moradia, saúde e educação.
Terra, via Hypeness

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