Num dia letivo reservado ao encontro com os pais dos nossos
alunos, numa tarde na Escola Estadual Cosme Ferreira Marques ouvi de uma mãe um
relato que nunca me esqueci.
Eram umas 16 horas, e neste encontro, já se encerrando,
surgiu essa mãe e pediu a mim e a Gilberto Cardoso, nossa opinião de como se
encontravam seus dois filhos: um menino que devia ter uns 14 anos e uma mocinha
, que deveria ter uns 15. Nós dois ainda nos encontrávamos ali, mas já quase de
saída naquele momento. Os outros companheiros de trabalho já tinham se dirigido
as suas residências.
Ela quando ouviu de nós que seus filhos eram bons alunos e
que tinham boas notas, nos disse:
- "Não acredito como eles conseguem, pois estão
passando por grandes dificuldades, pra não dizer “fome”. Arranjei um diabo de
um macho, que acabou vendendo minhas vaquinhas. Do leite eu tirava o sustento
dos meus filhos ! Tô arrasada! Meus filhos estão passando fome !" Depois
daquele relato, saímos dali bem tristes.
No dia seguinte fiz uma campanha em sala, com a intenção de
ajudar aquela família dos nossos dois alunos, porém sem revelar os nomes deles.
Todos ajudaram de alguma forma e saciamos a fome daquela família por uns dias.
Na Bíblia está escrito que "Dai com a mão que a outra
não veja, mas neste relato não posso esconder este fato.
Dizem por aí que o mundo dá voltas, se referindo não aos
caminhos da terra, mas as possibilidades de mudanças que podem ocorrer em
nossas vidas.
E foi o que ocorreu com esses nossos dois alunos;Apesar das
dificuldades que passaram, eles estudaram, batalharam, capacitaram-se e
venceram.
A mãe deles, hoje mora numa bela casa construída com a ajuda
dos dois. O rapaz, hoje homem feito, passou em vários concursos e trabalha numa
conceituada universidade pública federal e a irmã, trabalha, ganha bem e tem
dois empregos.
Conversei com a moça esta semana e ela me disse as seguintes
palavras:
- "Eu e meu irmão tivemos a sorte de termos professores
como vocês, que tinham o prazer de ensinar! De educar. Muito obrigada!"
Vejam aí uma prova de que , apesar das adversidades da vida,
podemos superá-las , dar a volta por cima e vencer.
A educação tem este poder transformador da pessoa humana,
tanto político-social e econômico, quanto intelectualmente. Isto deve ser
valorizado o tempo todo e a escola precisa, não de somente professores, mas sim
de educadores na sua essência.
Pelos menos, é essa a nossa opinião.
João Maria de Medeiros é professor , poeta e cronista.
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