
Em 1726, em uma época em que circo de horrores era algo extremamente apreciado pelo povo, um caso estranho apareceu em Londres.

O caso de Mary Toft e seus coelhos virou manchete de jornal, afetando a crença das pessoas e inclusive o comércio da época. As pessoas não conseguiam mais comprar o animal pelo asco que tinham quando ouviam a história. Com a celebridade de Toft, vários comerciantes tiveram grandes prejuízos nas vendas. A essa altura, a população e os médicos começaram a acreditar que se tratava de um caso de “impressão maternal”, uma teoria pseudocientífica bastante popular que circulava na época. Esta teoria afirmava que as emoções e a imaginação da mãe poderiam afetar no desenvolvimento do filho ainda em período de gestante. Por exemplo, se uma mulher tivesse medo de coelhos ou sentisse algo muito forte por eles, isso poderia interferir na formação do feto, fazendo que a mãe realmente parisse coelhos. Essa teoria ainda manteve seu sucesso até meados do século XX.
Não acreditando muito na história, o rei mandou mais um de seus profissionais para checar novamente. Cyriacus Ahlers era um médico bem mais cético, não acreditava na teoria da “impressão maternal” e não foi seduzido tão facilmente pelo boato dos partos de Mary Toft que corriam à solta pela população.
O médico assistiu alguns partos de coelhos da jovem, mas se manteve agarrado às explicações científicas possíveis. Curioso com o caso, o médico tomou algumas providências necessárias para validar ou invalidar a história. Alguns meses depois, a jovem foi levada à força para a capital para ser analisada e teve de ficar trancada vários dias sendo observada intensamente pelos médicos e enfermeiros. Passou por várias dificuldades, como febre e perda da consciência. Entretanto, misteriosamente, Toft não dava mais à luz aos coelhos. Continuando suas pesquisas, Ahlers resolveu dissecar os coelhos que saiam do ventre de Toft e percebeu que eles possuíam feridas oriundas de instrumentos afiados e havia vestígios de feno e milho em suas penugens.

Cerca de um mês depois da internação, Mary foi desmascarada. Um dos porteiros foi flagrado transportando um filhote de coelho para dentro da sala onde Mary estava isolada e ainda afirmou ter sido subornado pela moça para realizar tal serviço. Outras fontes também confirmaram que a família havia feito uma compra razoável de coelhos nos últimos meses. Além de tudo isso, quando o procedimento cirúrgico experimental foi aprovado e os médicos preparavam-se para operá-la, Mary confessou a farsa. Com isso, levou vários médicos à falta de credibilidade, inclusive Nathaniel, que havia dado diagnóstico falso e publicado seu caso em livros.
A verdade é que Mary Toft havia engravidado pouco antes do escândalo, mas o bebê faleceu. Aproveitando o dilatamento oriundo da gravidez ainda presente em seu corpo, a jovem introduziu as partes de diversos animais e forjou o parto. Quando viu que o caso fez sucesso, investiu em manter coelhos consigo e, quando os médicos não estavam olhando, ela colocava os pedaços dentro de si e fingia um parto. Obviamente, esse processo gerou altas rejeições corporais e isso explicaria as altas febres que Mary tinha, inclusive quando foi internada.
A “impostora de coelhos”, como ficou conhecida, realizou essa loucura pela necessidade de sair da miséria que a assolava. Era época de esquisitices e circo de horrores terem fama dentro da população. Toft acreditou que, com seu truque de parir coelhos, ela poderia ganhar algum dinheiro pela fama de aberração humana. Como seu plano não funcionou plenamente, a jovem teve de cumprir uma pena de cinco meses sob a acusação de fraude. Após sair da cadeia, ainda continuou vivendo na pobreza até a sua morte, que aconteceu em 1763.
Fonte: University of Glasgow Foto: Divulgação
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